domingo, 14 de outubro de 2012

Por que o Brasil não tem indignados?

O fato de que em apenas seis meses de governo, a presidenta Dilma Rousseff tenha que ter demitido dois de seus principais ministros herdados do governo antecessor Lula da Silva (Antonio Palocci da Casa Civil, uma espécie de primeiro ministro e dos Transportes, Alfredo Nascimento), ambos demitidos sob os escombros da corrupção política, coloca aos sociólogos a pergunta do porque nesse país, onde a impunidade está por detrás da ideia de que “todos são ladrões” e de que “ninguém vai para a cadeia” não exista o fenômeno, hoje em voga em todo o mundo, do movimento dos indignados.

Por que os brasileiros não reagem frente à hipocrisia e a falta de ética de muitos governantes? Por que não lhes incomoda que políticos que os representam, no governo,  Congresso, nos estados ou nos municípios roubem descaradamente dinheiro público? É a pergunta que fazem muitos analistas e blogueiros políticos.
Nem sequer os jovens, trabalhadores ou estudantes têm manifestado até agora a mínima reação frente à corrupção dos que lhes governam. Curiosamente, a mais irritada diante do assalto aos cofres públicos por parte dos políticos, parece ser a primeira presidenta mulher, a ex-guerrilheira Dilma Rousseff, que tem demonstrado públicamente seu desgosto pelo “descontrole” em curso em áreas do seu governo. A mandatária já retirou do seu governo – e disse que ainda não acabou a limpeza – dois ministros chaves, com o agravante de que eram herdeiros do seu antecessor, o popular Lula da Silva, que lhe pediu que os mantivésse em seu governo.

Hoje, a imprensa diz que Dilma começou a desfazer-se de certa “herança maldita” de hábitos de corrupção do passado. E as pessoas das ruas porque não fazem eco, ressuscitando aqui também o movimento dos indignados? Porque não se mobilizam em redes sociais? O Brasil, depois da ditatura militar, se encontrou nas ruas com o Movimento das “Diretas Já” para pedir a volta das urnas, símbolo da democracia. Também foi para as ruas para obrigar o ex-presidente Collor a deixar o seu cargo diante das acusações de corrupção que pesavam sobre ele. Mas hoje, o país está mudo diante da corrupção em curso. As únicas causas capazes de levar as pessoas às ruas são os homossexuais, os seguidores das igrejas evangélicas e os que pedem a liberação da maconha.

Será que os jovens não têm motivos para exigir um Brasil não apenas cada dia mais rico (ou menos pobre), mais desenvolvido, com maior força internacional, mas também menos corrupto em suas esferas políticas, mais justo, menos desigual, onde um vereador não ganhe mais do que dez vezes o que ganha um professor, ou um deputado cem vezes mais do que ganha o cidadão comum depois de 30 anos de trabalho, e se aposenta com apenas R$ 650,00 enquanto um funcionário público com até 30 mil reais?
O Brasil será logo a sexta maior potência econômica do mundo, mas no momento segue na rabeira em matéria de desigualdade social e na defesa dos direitos humanos. Um país que não permite o aborto, no qual o desemprego das pessoas de cor chega a 20% contra 6% dos brancos e a polícia é uma das mais violentas do mundo.

Há quem atribua a apatia dos jovens ao fato de uma propaganda exitosa que lhes convenceu de que o Brasil é hoje invejado por meio mundo. Que a saída da pobreza de 30 milhões de pessoas os fez acreditar que tudo vai bem, sem compreender que um cidadão de classe média europeu equivale ainda a um rico daqui.
Outros atribuem ao fato de que os brasileiros são pessoas pacíficas, pouco dadas a protestos, que gostam de viver felizes com o que têm e que trabalham para viver em vez de viver para trabalhar. Tudo isso é também certo, mas não explica ainda, porque, num mundo globalizado onde se conhece o instante de tudo o que acontece no planeta começando pelos movimentos de protesto de milhões de jovens que pedem democracia ou a acusam de estar degenerada, os brasileiros não lutem para que o país, para além de ser rico, também seja mais justo, menos corrupto, mais igualitário e menos violento em todos os níveis.
Assim é o Brasil que os honestos sonham para os seus filhos, um país onde as pessoas não perdem o gosto de desfrutar do pouco ou muito que tem e que seria ainda melhor se surgisse um movimento de indignados, capaz de limpá-los das escórias de corrupção que golpeam todas as esferas de poder.
 

Autor: Juan Arias

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